Pelo menos 95 morreram na repressão da polícia a islamitas acampados.
Manifestantes pediam volta do presidente Morsi, derrubado por militares.
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O governo do Egito anunciou nesta quarta-feira (14) a imposição de estado de emergência, por um mês, após os confrontos entre forças de segurança e islamitas que mataram 95 pessoas e deixaram 874 feridos, segundo a TV estatal.
O estado de emergência começou às 16h locais (11h de Brasília).
A presidência pediu ao exército que ajude o Ministério do Interior a "impor a ordem" no dividido país, o mais populoso dos países árabes.
Também foi imposto toque de recolher no Cairo e em várias províncias, de 19h às 6h.
Crise após golpe militar
Segundo a imprensa local, os confrontos seguem intensos na capital do país, cada vez mais afundado na crise política após a derrubada do presidente islamita Morsi, no início de julho, por um golpe militar.
Segundo a imprensa local, os confrontos seguem intensos na capital do país, cada vez mais afundado na crise política após a derrubada do presidente islamita Morsi, no início de julho, por um golpe militar.
Os islamitas pedem que ele seja reconduzido ao cargo. Os militares prometeram uma transição de volta à democracia.
Segundo o Ministério da Saúde, 95 pessoas morreram e outras 874 ficaram feridas. O porta-voz do ministério, Hamdi Abdel Karim, disse que entre os mortos estão policiais e civis.
O maior número de vítimas dos confrontos ocorreu na província de Miniya, no sul, onde 25 pessoas morreram e 197 se feriram, segundo o ministério.
Também foram registradas mortes em Beheira, Alexandria e Daqahiliya (norte), Suez (leste), Luxor (sul), entre outras províncias.
A Irmandade Muçulmana e a imprensa falam em cifras maiores, com até 350 mortos. Eles também afirmam que a filha de 17 anos um de seus líderes, Mohammed al-Beltagui, está entre os mortos. Ela teria sido baleada no peito e nas costas durante o avanço da polícia na praça de Rabaa al-Adawiya
As forças de segurança - com policiais, blindados e helicópteros - atacaram acampamentos dos seguidores do deposto presidente, Mohammed Morsi.
A tropa de choque da polícia, usando máscaras de gás, aproximou-se agachada atrás de veículos blindados pelas ruas ao redor da mesquita Rabaa al-Adawiya, no nordeste do Cairo, onde milhares de apoiadores de Morsi mantinham uma vigília.
Outros incidentes
Pelo menos 17 pessoas morreram na província de Fayoum, ao sul do Cairo, após confrontos em delegacias entre apoiadores de Morsi e as forças de segurança, disse um funcionário de um hospital.
Pelo menos 17 pessoas morreram na província de Fayoum, ao sul do Cairo, após confrontos em delegacias entre apoiadores de Morsi e as forças de segurança, disse um funcionário de um hospital.
Partidários de Morsi incendiaram uma igreja copta em Sohaf, no centro do Egito, em represália pela retirada de seus acampamentos, informou a agência oficial Mena.
Os islamistas atiraram coquetéis molotov contra a igreja Mar Gergiss, situada na área da diocese desta cidade que tem uma importante comunidade cristã ortodoxa copta, segundo a agência.
Os coptas, que representam entre 6% e 10% da população egípcia, tiveram uma participação ativa no movimento popular que provocou a derrubada de Morsi pelo exército.
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Preocupação internacional
A situação no Egito, o mais populoso dos países árabes, preocupa a comunidade internacional.
A situação no Egito, o mais populoso dos países árabes, preocupa a comunidade internacional.
"A comunidade internacional, liderada pelo Conselho de Segurança da ONU, deve imediatamente passar à ação para cessar com este massacre", exigiu o primeiro-ministro turco islamita Recep Tayyip Erdogan.
A intervenção armada é inaceitável, declarou o chefe de Estado turdo, Abdullah Gul. "O que aconteceu no Egito, esta intervenção armada contra civis que se manifestam, não pode de maneira alguma ser aceita", afirmou Gul aos jornalistas em Ancara.
O presidente turco, que também expressou seu temor de uma situação que resulte num conflito similar ao da Síria, pediu a todas a partes a agir com calma.
O Irã condenou a matança, segundo um comunicado publicado pela agência Fars. "O Irã acompanha de perto os amargos acontecimentos no Egito condena a matança da população e adverte sobre suas graves consequências", indica o texto.
O Catar, principal apoio da Irmandade Muçulmana, denunciou com veemência a intervenção da polícia contra "manifestantes pacíficos".
No Ocidente, as condenações à operação foram mais prudentes.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon condenou com veemência a intervenção das forças de segurança contra a população egípcia e criticou as autoridades no poder por terem optado pelo uso da força.
"Diante das violências de hoje, o secretário-geral apela a todos os egípcios que concentrem seus esforços na promoção genuína, inclusive na reconciliação", afirmou seu porta-voz Martin Nesirky.
A União Europeia convidou as partes envolvidas a exercer a máxima moderação nesta crise.
"Apelo às forças de segurança para exercer máxima moderação e todos os cidadãos egípcios para evitar mais provocações e uma escalada da da violência", declarou a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton.
"Estou muito preocupado com a escalada de violência e a instabilidade no Egito", indicou o ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, em um comunicado. "Condeno o uso da força para dispersar as manifestações e peço às forças de segurança que atuem com moderação."
O chefe da diplomacia alemã, Guido Westerwelle, pediu a todas as forças políticas egípcias que impeçam uma escalada da violência.
A França também advertiu contra o uso desproporcional da força e pediu calma, enquanto Berlim defendeu "a retomada imediata das negociações" para evitar "um derramamento de sangue".
Na terça-feira, o governo dos Estados Unidos pediu às autoridades egípcias que autorizassem as manifestações dos simpatizantes de Morsi, pelo temor de uma explosão da violência.
Washington, que concede ao Cairo uma ajuda de US$ 1,5 bilhão por ano, principalmente militar, mantém relações estreitas com os militares do país, mas defende a convocação rápida de novas eleições.
Militares pressionam
A ação para acabar com os acampamentos parece frustrar as esperanças restantes de trazer a Irmandade Muçulmana, o grupo de Morsi, de volta ao palco político central, e destacou a impressão compartilhada por muitos egípcios de que os militares apertaram o controle.
A ação para acabar com os acampamentos parece frustrar as esperanças restantes de trazer a Irmandade Muçulmana, o grupo de Morsi, de volta ao palco político central, e destacou a impressão compartilhada por muitos egípcios de que os militares apertaram o controle.
A operação também sugere que o Exército perdeu a paciência com os persistentes protestos que imobilizavam partes da capital e retardavam o processo político.
Tudo começou logo após o amanhecer, com helicópteros sobrevoando os acampamentos. Tiros foram disparados enquanto os manifestantes, entre eles mulheres e crianças, fugiam de Rabaa, e a fumaça subiu sobre o local. Veículos blindados avançaram ao lado de tratores que começaram a derrubar as tendas.
O governo emitiu um comunicado dizendo que as forças de segurança mostraram o "maior grau de autocontenção", refletido em poucas baixas diante do número de pessoas "e do volume de armas e violência dirigidos contra as forças de segurança".
O governo, que prevê novas eleições em cerca de seis meses para devolver o regime democrático ao Egito, instou os manifestantes a não resistir às autoridades, acrescentando que os líderes da Irmandade Muçulmana devem parar de incitar a violência.
Sunitas se distanciam
A mesquita Al-Azhar do Cairo, principal autoridade sunita do mundo e que havia apoiado a destituição de Morsi, se distanciou da violência desta quarta.
A mesquita Al-Azhar do Cairo, principal autoridade sunita do mundo e que havia apoiado a destituição de Morsi, se distanciou da violência desta quarta.
"Al-Azhar informa aos egípcios que não tinha conhecimento dos métodos utilizados para dispersar os protestos, a não ser pelos meios de comunicação", afirmou o imã Ahmed al-Tayyeb.