Programa Lixo Zero, que começou nesta terça-feira, prevê punições que variam de R$ 157 a R$ 3 mil
- Divididos em 58 equipes, agentes percorrem as principais vias
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RIO - Quarenta e duas pessoas foram multadas ao serem flagradas jogando lixo nas ruas do Centro do Rio até as 10h30m desta terça-feira. Na operação Lixo Zero da prefeitura, que teve início nesta manhã, os agentes já percorreram as seguintes vias: Rua do Ouvidor; Rua Sete de Setembro, Rua Uruguaiana, Rua da Assembleia, imediações do Camelódromo, Rua do Rosário, Avenida Rio Branco, Rua Marechal Floriano, Rua México, Rua Almirante Barroso. Na Central do Brasil, ainda não houve flagrante. Ninguém se recusou a mostrar a identificação. O programa Lixo Zero prevê a aplicação de punições que variam de R$ 157 a R$ 3 mil. Mais cedo, dois menores foram advertidos por jogarem embalagem de biscoito na Avenida Rio Branco, próximo à Rua Sete de Setembro, segundo o secretário de Governo do município, Rodrigo Bethlem.
Multado por jogar uma guimba de cigarro no chão, na esquina da Rua da Assembleia com a Avenida Rio Branco, o consultor de beleza Ney Eckhabt, de 51 anos, disse concordar com a iniciativa. Mas acha que o esforço das autoridades para tornar a cidade mais limpa pode esbarrar num fator cultural: o costume do carioca em jogar lixo no chão:
- A cultura do carioca é ser sujo. Não adianta querer mudar essa cultura de um dia para o outro.
Ney foi um dos dez primeiros multados pelos fiscais. Ele recebeu das mãos de um guarda municipal um boleto no valor de R$ 157, impresso num palmtop e que poderá ser pago em qualquer banco ou lotérica.
- Acho certo multar. Mas faltou divulgação. Eles poderiam, por exemplo, fazer uma simulação neste primeiro dia e não aplicar multas de verdade - disse o consultor de beleza, alegando que não sabia do Lixo Zero por passar mais tempo na Europa do que no Brasil.
Multado também R$ 157 por jogar um pedaço de plástico no chão - o invólucro de um livro que acabara de comprar - Reginaldo Maurício Batista, de 37 anos, não sabe como pagará esse valor. Ele alega estar desempregado há oito meses e disse que recorrerá da infração.
- Meu dinheiro é contado. A multa veio numa hora imprevista. Foi um momento de bobeira, já que não costumo jogar lixo no chão. Apoio a iniciativa, mas infelizmente não tenho condições de pagar - disse ele.
Reunião antes da operação no Centro
No início da manhã, as equipes da Comlurb, da Guarda Municipal e da Polícia Militar que participam do primeiro dia da operação se reuniram na gerência da Comlurb, na Rua República do Líbano, para receber as últimas orientações antes de sair às ruas.
São 192 funcionários, divididos em 58 equipes, cada qual formada por um agente de limpeza da Comlurb, um PM e um guarda municipal. Eles percorrem inicialmente as ruas do Centro. Os agentes vão atuar todos os dias da semana, das 7h às 22h20m. O descarte irregular de lixo até o tamanho de uma lata de refrigerante acarretará multa de R$ 157. Até um metro cúbico, R$ 392. Acima disso, pode chegar a R$ 980. Para volumes maiores, como depósito de entulho, a multa é de R$ 3 mil.
— A possibilidade de recurso é prevista em lei. O cidadão pode recorrrer na Rua Major Avila 358, na Ouvidoria da Comlurb. Lá, a gente vai receber a pessoa que eventualmente discurdar daquela multa, vai avaliar, terá uma comissão para avaliar aqueça multa. Se for procedente , a multa é retirada. E se não for, o cidadão terá que pagar aquela multa — disse o presidente da Comlurb, Vinícius Roriz.
O coordenador da campanha, Fernando Alves Pinto, espera que a população compreenda a ação e contribua para uma cidade mais limpa.
Em setembro, o programa começa a ser aplicado em Ipanema, Leblon e Lagoa. Depois, será a vez de Copacabana.
População reclama da falta e do tamanho reduzido das lixeira
Quem trabalha no Centro, entretanto, reclama da falta e do tamanho reduzido das lixeiras, insuficientes para dar conta do volume de resíduos descartados diariamente. Basta caminhar pela região para perceber que, além de papeleiras lotadas, há vários pontos fixos de descarte.
Cansado de ver as pessoas jogando lixo na calçada em frente à sua loja na Rua Uruguaiana, o comerciante Antenor Pereira comprou uma lixeira plástica grande e a prendeu com uma corrente a um poste. Em poucos meses, a lata foi retirada, segundo ele, pela Comlurb. Na segunda-feira, o local virou uma lixeira improvisada:
— Pelo visto, eles preferem que o lixo fique no chão. Amanhã (hoje), vou colocar outra lata aqui, para não multarem as pessoas. Se eles estão preocupados com a sujeira, deveriam colocar mais lixeiras nas ruas — reclama Antenor.
Conceição Aparecida Fonseca, que trabalha na área de recursos humanos, concorda:
— Eu sou a favor do projeto, mas faltam lixeiras no Centro. Nessas pequenas, não cabe nada. A prefeitura também tem que fazer o dever de casa.
A Comlurb diz que faz a parte dela. A Rio Branco e a Presidente Vargas são varridas quatro vezes por dia cada uma. Garis recolhem em média 1,3 tonelada de lixo nas duas vias diariamente. Guimbas de cigarros, embalagens de comida e panfletos — cuja distribuição, aliás, é proibida — fazem parte dos itens mais descartados no Centro.
— Vamos aumentar a quantidade de lixeiras (hoje são 30 mil), teremos mais sete mil até o fim do ano. Também estudamos colocar modelos maiores nos lugares com grande produção de lixo e de outros materiais, como a fibra de coco — diz o presidente da Comlurb, Vinícius Roriz. — Mas, se as pessoas não mudarem seus hábitos, como segurar o papel na mão até chegar à papeleira mais próxima, não adianta aumentar a quantidade de lixeiras.
Modelo comporta poucos resíduos
Em junho deste ano, O GLOBO mostrou que o uso das papeleiras adotadas pela Comlurb é polêmico. Com uma abertura pequena, difíceis de serem encontradas em alguns pontos da cidade, elas não comportam resíduos maiores, como caixas de papelão e cocos.
Trazido de Portugal, o modelo tem capacidade para 50 litros e abertura de apenas 40 centímetros de largura por 12 de altura. A reportagem mostrou que o Rio tem uma lixeira para cada 213 habitantes. Em São Paulo, é uma para cada 58 pessoas, e em Curitiba, reconhecida por sua limpeza, a proporção é de uma para cada 417. Na época, Vinícius Roriz, presidente da Comlurb, disse que a quantidade de papeleiras não era justificativa para se jogar lixo no chão. Ele citou o o exemplo de Tóquio, no Japão, onde quase não existem lixeiras nas ruas.
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